A Rua Carlos Ribeiro, no Bairro de Fátima, em Fortaleza, não é enfeitada com bandeirinhas, flores ou luzes. Na verdade, o objeto que dá charme à via, tornando-a peculiar, é o carro Gurgel. Mas não é apenas um. Ao caminhar pela rua, é possível se deparar com uma fileira de veículos estacionados um atrás do outro.
O cearense Francisco José Ribeiro Medeiros, o Dé, é o responsável pela decoração exótica. Aos 62 anos, o homem cultiva um espécie de romance com o carro, tendo altos e baixos na relação. Um dia, ainda jovem, capotou o carro na Praia do Futuro. Até hoje tem a marca na mão, um dedo quebrado e o momento no coração.
Após o susto, a relação não foi abalada. Decidiu viver até o fim com o veículo, mesmo que isso lhe causasse outras perdas. Hoje, é apaixonado por 12 espécies das mais variadas: branco ou verde, de 1989 ou 1991. A dúzia de “Gurgeis” está bem guardada. Tirou cada um da rua e os deu um lar.
Dé conta que seu prazer em desmontar e montar novamente começou cedo. O primeiro alvo foi a bicicleta. Depois conheceu o Gurgel. Não deu outra: virou especialista no veículo. Agora, é referência em Fortaleza, conforme dizem os amigos. “Pode perguntar a quem tem Gurgel se tem alguém que possa dar umas dicas sobre ele”.
Dinheiro que é bom, nada! É mais um passatempo que um trabalho. Mesmo assim, Dé tem uma oficina, com um mecânico. Mexer no carro, ele não gosta. Prefere olhar e dar dicas, escolhendo as peças dos mais variados veículos: poder ser novo, antigo, carro ou moto. Depois de ajeitado, o xodó custa entre R$ 8 mil e R$ 10 mil. Para os amigos, vale até ouro.
Começou com a casa de número 542. Passou um tempo e comprou a do lado. Conquistou muitos amigos por causa de um carro. Depois de tantos anos envolvido nesse tipo de amor, ainda cultiva um sonho. Mostra o Gurgel verde todo quebrado na frente da casa e revela que quer fazê-lo conversível.
Saiba Mais
Um dos modelos que está na garagem de Dé é o Gurgel BR-800, fabricado entre 1989 e 1991. Com comprimento de 3,195 metros por 1,470 mm de largura, o carro é um precursor dos modelos mini atuais.
O motor é tipo de construção, com combustão interna, dois cilindros, montado na dianteira do veículo. A direção é mecânica e o reservatório de combustível é de 40 litros. A potência é de 30 CV a 5000 rpm.
E mesmo sem ter fabricação original com ar-condicionado, Dé garante que dá para instalar o acessório e mais outros. Basta procurá-lo que ele dá a dica.
Sobre o veículo
João Augusto Conrado do Amaral Gurgel sonhava com um carro genuinamente brasileiro. Resolveu realizar o sonho e, em 1969, criou um veículo e o batizou com seu sobrenome. A Gurgel Motores S.A., uma fabricante de automóveis brasileira, nascera em São Paulo.
A montadora produziu aproximadamente 30 mil veículos brasileiros durante seus 27 anos de existência. A concorrência com multinacionais enfraqueceu a fábrica, que se atolou em dívidas. O último Gurgel foi fabricado em 1993. Morreu para o mercado, mas não saiu do coração de gente como o Dé.
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